quarta-feira, 25 de setembro de 2013


Principais diferenças entre o Conselho de Estado Francês e o Administrative Court Inglês


Como vimos nas aulas anteriores de Contencioso Administrativo, os modelos de Contencioso Administrativo Francês e Inglês actualmente tendem a aproximar-se um do outro, apesar de terem nascido bastante diferentes.
Hoje em dia, os órgãos mais importantes responsáveis pelo controlo da Administração Pública em França e em Inglaterra são, respectivamente, o Conselho de Estado (le Conseil d´État) e o Administrative Court. Mas afinal o que é o Conselho de Estado e o Administrative Court fazem? Será que as funções destes dois tribunais diferem ou podemos estabelecer semelhanças entre os dois órgãos no que respeita às suas funções? São estas questões que irei analisar de seguida, referindo quais são as competências do Conselho de Estado Francês e do Administrative Court Inglês.
Começando pelo Administrative Court, verificamos que este tribunal tem competência em várias matérias.
Primeiro que tudo, o Administrative Court é um tribunal administrativo de primeira instância que controla a actuação da Administração Pública inglesa e galesa e serve de órgão supervisor de outros “tribunals” e “ courts”.
A jurisdição supervisória do Administrative Court é exercida sobretudo através de um mecanismo processual chamado “ judicial review” e abrange instituições que exercem funções públicas. Cabem dentro do Judicial Review  as decisões de autoridades públicas no exercício dos seus deveres que atribuem vários benefícios sociais e educação especial a crianças, certas decisões das autoridades de imigração e da Immigration Appellate Authority, decisões de órgãos de regulação e decisões que digam respeito a direitos de prisioneiros.
O Administrative Court pode funcionar com um único juiz ou como uma secção (com dois ou mais juízes). Apesar de o Administrative Court estar dentro da “ Queen´s Bench Division” no exercício da “ judicial review”, os juízes da secção de família e da chamada “ Chancery division” (que trabalha com Direito Empresarial, Direito Testamentário, Insolvência e Direitos Reais) do tribunal judicial de primeira instância também participam neste tribunal.
Actualmente, o Administrative Court tem a sua sede em Londres e lida com o judicial review em decisões de “ courts” e “ tribunals” inferiores, instituições públicas e entidades que exercem funções públicas. Também linda com recursos contra decisões de magistrados de tribunais, pedidos de habeas corpus, recursos de decisões de Ministros, do poder local e dos tribunais, pedidos para evitar que uma das partes continue os procedimentos sem a autorização de um juiz e pedidos relacionados com o Coroners Act de 1988.
Alguns assuntos podem ser ouvidos por uma secção do Administrative Court composta por dois ou mais juízes, entre os quais constam pedidos relacionados com eleições parlamentares e para o Governo local segundo os Representation of People Acts.
E quanto ao Conselho de Estado Francês? Quais são as suas principais funções?
Importa dizer que o Conselho de Estado Francês tem três principais funções: aconselha,  julga e administra.
De facto, a primeira função do Conselho de Estado é aconselhar o Governo. Para isso, o Conselho de Estado utiliza secções especializadas: a secção do interior, a secção de finanças, a secção de obras públicas, a secção social e a secção de administração, esta criada em 2008. O Conselho de Estado aconselha o Governo na preparação de projectos de lei, de ordonnances e de alguns decretos, emite pareceres sobre questões jurídicas e realiza, a pedido do Governo ou por iniciativa própria, estudos sobre questões administrativas ou políticas públicas.
Em segundo lugar, o Conselho de Estado julga a Administração em França, pois é este órgão que, em última instância, controla a actuação do poder executivo francês, das coletividades territoriais, das autoridades independentes e dos estabelecimentos públicos administrativos e dos organismos que dispõem de prerrogativas de poder público.
Em terceiro lugar, o Conselho de Estado é responsável pela gestão dos 41 tribunais administrativos franceses, das 8 cortes administrativas de apelação e de algumas jurisdições especializadas (dentre as quais a Corte Nacional de direito de asilo).
Para gerir os magistrados, o Conselho de Estado é auxiliado por um órgão de consulta independente, o Conselho Superior dos Ttribunais administrativos e das cortes administrativas de apelação (CSTA).
Em suma, através da atribuição ao Conselho de Estado de uma dupla função jurisdicional e consultiva, podemos dizer que este órgão faz com que a Administração Pública Francesa se submeta ao Direito e evita que, como acontecia na fase do Pecado Original em França, fosse a Administração Pública a controlar-se a si própria.
Assim sendo, embora o Conselho de Estado Francês e o Administrative Court tenham atribuições diferentes, devemos concluir que o principal objectivo destes dois tribunais é igual : o controlo da Administração Pública e a defesa dos direitos dos particulares face ao poder público. De facto, sem o Conselho de Estado Francês e sem o Administrative Court britânico, o controlo da Administração Pública e a defesa dos direitos dos particulares em França e em Inglaterra seriam tarefas muito mais difíceis de concretizar e o controlo do exercício da função administrativa acabaria sempre por ser insuficiente nestes países. Daí que seja da opinião de que estes dois órgãos jurisdicionais, embora com composições e atribuições diferentes, sejam essenciais em França e em Inglaterra para evitar que a Administração Pública actue a seu bel-prazer desrespeitando os direitos dos particulares.
 
Guilherme Gomes
140110022
 

Fontes :




 

 

 

 

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